quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Na (minha) Primeira Pessoa - Epifania de Alguém como Você


Estava Escutando Paul quando o primeiro verso da música me disse “when you were young and your heart was an open book...” Senti-me tentado a discordar do eminente Sir, pois nem na minha mais terna juventude o meu coração foi um livro aberto, o mais perto que alguém já chegou foi no prefácio. Qual o porquê do modo de ser não permitir uma maior abertura? Não conseguia achar essa resposta em local algum até que, como no episódio da privada da epifania de Scrubs, uma luz veio sobre mim: mas está tão claro, eu sou a pior pessoa que pode existir para alguém se relacionar em todos os sentidos e níveis. Tive a certeza quando ao chegar do trabalho e o meu cachorro me abraçou, olhei nos seus olhos bem de perto e percebi o tanto que ele é um ser superior a mim por ter me abraçado somente pela alegria de me ver e eu, ah, e eu não consigo fazer nem isso. Living on my own, me diz Freddie. Vivo em mim mesmo, parece que o que está à minha volta não me toca, talvez seja uma ultra-mega-super maneira de me proteger, mas isso não é desculpa, eu nasci com a específica finalidade de magoar as pessoas! Admitir isso me fez pensar que como deve ser difícil me aturar. Quero ficar sozinho, pois só assim não seria mais um estorvo na vida ninguém como já devo ter sido (e sou). Ninguém é obrigado a me suportar e admiro muito as pessoas que o fizeram e o fazem de maneira corajosa. Cruzar comigo na linha da vida é um grande castigo para qualquer pessoa. Certo, mas por qual motivo não falo isso com ninguém? Simples, o meu livro só tem uma edição e esta não está ao alcance de ninguém. Triste não? Triste, mas verdadeiro. Não falo com ninguém sobre isso e preferi por no papel, como uma espécie de desabafo, mesmo que tardio e infrutífero. Lauper está me dizendo no momento em que escrevo que ama uma pessoa por ver suas cores verdadeiras (música bonita não?). Seria bom se todos pudessem ver minhas verdadeiras cores, pois assim conseguiriam afastar-se a tempo de cometer o maior erro de suas vidas: tentar ter algum contato comigo. Talvez ser um ermitão urbano seja uma solução razoável. Opa, será que já não o sou? Um caso a se pensar. Acho que já descobri por qual motivo eu gosto tanto de Seinfeld, me identifico bastante com o personagem título que não dá a mínima para os sentimentos dos outros e esbanja ironia pelos poros possuindo uma ética duvidosa e uma auto-suficiência incrível. “I Have No Heart, I`m Cold Inside...”, me diz Freddie com melancolia, parece que sou eu dizendo. Se a teoria que nos incita em acreditar que existem vidas passadas estiver certa, eu devo ter sido um bobo da corte desempregado que não trazia alegria para a vida de ninguém. Bem, “I Am What I Am” (Gay não? Ei, dei uma risada agora...), portanto não vou procurar mudar minha maneira de agir, pois será em vão e a máscara logo cairá, prefiro continuar a existir como algo imperceptível e sem valor no meio da multidão que me cerca. Escrevi isto para lembrar a mim mesmo quem sou, e se, talvez, isto estivesse em um papel de boa qualidade, queria que fosse enterrado comigo para quando o Diabo fosse me recepcionar, eu mostraria para ele e tentaria convencê-lo de que escrever na primeira pessoa, às vezes (só às vezes mesmo) é bom...

Escrito, infelizmente, por mim...

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